domingo, outubro 25, 2009

ARTE, TRADIÇÃO E TRANSGRESSÃO

Toda a historia da arte é marcada por uma longa série de pequenas e grandes transgressões, e os artistas, cuja fama conseguiu desafiar o tempo, são aqueles que conseguiram transgredir com mais veemência. Caravaggio retratava como Santas as prostitutas das tabernas, Michelangelo usava o “não acabado” para romper com as regras do classicismo da Renascença, Goya foi considerado obsceno e sinistro por retratar em toda sua perversidade a Inquisição, assim como inúmeros outros artistas de todos os tempos.

O que talvez diferencie a transgressão do passado, daquela de hoje, é que esta não serve mais para expressar ou veicular uma mensagem, mas é ela própria a mensagem, a referência. O fotógrafo publicitário Oliviero Toscani, conhecido por suas campanhas provocatórias e polêmicas, afirma que a arte contemporânea se baseia na transgressão, e diz que “estamos tão empenhados em ser todos iguais, que a provocação é a única possibilidade de abrir uma brecha para a dúvida, para pensar algo diferente”.

GRAFFITI, PIXAÇÕES E GUERRILLA

Desde a época remota das cavernas o homem desenha nas paredes e nos muros, mas na forma como a conhecemos hoje, a prática do “graffiti”, palavra italiana dada às inscrições caligrafadas ou pintadas nas paredes da Antiga Roma, ganhou dimensão pública nos anos 60, em New York, quando jovens dos subúrbios resolveram marcar presença nos muros das regiões mais nobres da cidade. O recado era claro: se os brancos ricos não iam aos guetos, os moradores de lá passariam a visitá-los. Segundo o sociólogo e filósofo francês Roland Barthes, o que faz o graffiti não é a inscrição e sim o muro. Para a maioria das pessoas, os graffiti são somente aquelas imagens super coloridas e cheias de detalhes que se encontram espalhadas pelas cidades de todo o planeta e tendemos a diversifica-las das demais pixações e marcas. Porém qualquer inscrição em uma superfície sem autorização é um graffiti e independentemente se bonito ou feio, se faz sentido ou não, ele é essencialmente transgressivo e proibido.

Um outro fenômeno paralelo e muito presente no nosso tempo é a “Guerrilla”, que tenta traduzir, esvaziar e desqualificar os meios de comunicação de massa e seus conteúdos originais. Nos contextos urbanos, este uso do espaço público é reivindicado por quem se apropria de edifícios, orelhões, espaços publicitários e desorganiza a programação visual institucionalizada pela sociedade de consumo, usando recursos semelhantes aos da publicidade, interferindo no panorama urbano com pinturas, cartazes, adesivos ou panfletos.

A maioria dos grafiteiros hoje consagrados e mais bem considerados internacionalmente, como Basquiat, Bansky, Os Gêmeos, Nina, Nunca, Blu, Limpo, Denis Sena e outros, admite ter começado com as pixações. Depois de serem vistos como transgressivos e marginais, estes artistas ganharam fama e prestígio. O primeiro provavelmente foi Jean Michel Basquiat que após escrever poemas e frases provocatórias nos muros de New York foi reconhecido pelo mercado de arte e se tornou um dos maiores fenômenos da década de 80. A poucos anos a prefeitura de Londres proibiu cobrir com pintura qualquer desenho do Bansky espalhado pela cidade e suas obras viraram ícones de cartão postal. Os Gêmeos, Nina e Nunca, mudaram a superfície dos viadutos e dos trens de São Paulo para os digníssimos e nobres muros do Kelburn Castle, um dos mais antigos castelos da Escócia a pedido do conde de Glasgow. O baiano Denis Sena acaba de expor seus trabalhos numa galeria de Tóquio e de criar seis modelos customizados de tênis para Adidas além de estar envolvido num trabalho social com a ONG “Projeto Cidadão”, onde ministra oficinas de graffiti para meninos da comunidade.

Estes exemplos de arte e intervenções públicas, que não respondem a modelos fechados e excludentes, são de extrema relevância, pois manifestam expressões híbridas, espontâneas, tornando-se um fenômeno de convocação social onde vozes e olhares aos quais não seria permitida a manifestação, ficam escancarados para que todos possam refletir. Esta desobediência transgressiva nos transmite uma esperança, uma contestação livre que apresenta novas possibilidades, ordens e construções sociais.

Viviana Taberni

2 comentários:

  1. Viviana, que bom que compartilhou conosco o texto!!!. Eu compartilho da opinião! Arte é para "sacudir" e não para conformar! Um abraço.Milena.

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